Wednesday, July 9, 2014

Brazil Progresso vs. Brasil Parasita ?

Eu não gosto de comentar futebol junto com política -- as reações geralmente viram mais coração do que razão. Mas tem um textículo (sem trocadilho) que anda rolando nas redes sociais, espalhado após a derrota da seleção brasileira para Alemanha por 7 x 1, que é difícil não comentar. Esse que começa com "Isso representa mais que um simples jogo! Representa a vitória da competência sobre a malandragem!". Então, pela lógica, quando Brasil ganhou a Copa em cima da Alemanha em 2002 também representou a vitória da competência sobre a malandragem? Era o resultado do povo alemão ser um povo "desonesto", "parasita", que "ganha dinheiro sem ser suado"? Não. Por que quando a Alemanha perde é só futebol, e quando o Brasil perde é um retrato da inferioridade do caráter ou educação do povo (ou melhor, de um "certo povo") desse país? Por que um desses povos, quando é explorado, escravizado, esmagado por viaduto, e adquire algum direito social básico vira parasita; e o outro, quando os adquire vira país de primeiro mundo?


A resposta, subentendida nesse tipo de textículo, é que "não somos alemães". Se fossemos "alemães", poderíamos ter o direito de receber $184 euros por mês por cada filho, para todas as faixas de renda, ou $324 para famílias de baixa renda, sem corrermos o risco de nos tornarmos parasitas e desonestos. Se fossemos "alemães", poderíamos garantir moradia e uma renda mínima mensal de $382 euros para qualquer pessoas desempregada, com ou sem filhos, sem nos tornarmos preguiçosos e cachaceiros.

Mas, claramente, não somos "alemães". Na mão de alemão pobre, bolsa-família, renda-mínima e coisas do tipo viram welfare, construção de cidadania, direitos humanos, exemplo de primeiromundismo. Na mão do pobre brasileiro, vira cachaça e incentivo à preguiça.

Ora, o que salta aos olhos nessa lógica é que o nosso pobre não é tão "alemão" como o pobre da Alemanha. O alvo, raramente dito abertamente, está sempre lá. O pobre deles vem de uma cultura que preza a honestidade, a ética, o trabalho (leia-se: nórdica, européia e civilizada). O nosso, vem de uma cultura bronca, capenga, incompleta, imatura (leia-se: preta, índia, favelada, retirante, nordestina).

O problema não é o "jeitinho brasileiro" ou a "malandragem". É a subordinação e dominação de uma parte da população pela outra. Aquela que se auto-define como representante dessa moral (nórdica/européia) trabalhadora, sobre aquela que é definida como pobre, parda, parasita e incompleta, quase infantil. Nessa nossa sociedade, como no futebol, o que é parasitismo e maladragem desse setor dominante da sociedade vira exceção à regra. Já o comportamento da camada preta, índia, favelada, retirante e nordestina é sempre resultado da sua cultura parasitária.

2 comments:

  1. Parabéns pelo texto, excelente!

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  2. Concordo em partes com o texto (que é excelente, por sinal). Mas minha opinião é a de que, assim como cita o texto, sempre existirá o "jeitinho brasileiro". Brasileiros que recebem o benefício e não deveriam, porque deram um jeito de receber. Brasileiros que recebem e acham que "assim está bom", e vivem do benefício, sem buscar um meio de sustentação próprio ou de evoluir para conquistar a sua independência e uma vida adequada, visto que essa bolsa não supre nem o básico.
    A assistência do dinheiro têm que vir com outros pilares que sustentem esse investimento: acesso à boa educação, boa saúde, incentivos para os estudos, monitoramento e acompanhamento da situação dessas pessoas... Preparação e por fim ajuda para a pessoa entrar no mercado de trabalho...
    Dai sim, esses benefícios começam a fazer sentido. De outro modo, mais parece um meio de comprar votos.

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